A importância do recreio

Os desafios das dificuldades de aprendizagem e a procura de maior sucesso académico levaram algumas escolas americanas a reduzir os tempos de recreio, ocupando-o com mais atividades letivas. Por não se tratar de uma situação pontual, mas antes de uma tendência crescente, a Associação Americana de Pediatria (AAP) sentiu a necessidade de se pronunciar a este respeito (Policy Statement – The Crucial Role of Recess in School).

O receio, enquanto tempo de atividade física e lúdica não estruturada, é tão importante como aprender a ler ou a resolver problemas matemáticos. De facto, um estudo recente salienta para a importância destas pausas, no sentido de  favorecem não só a capacidade de aprendizagem dos conteúdos escolares, mas também o desenvolvimento físico-motor e social.

O tempo passado em jogo livre é essencial para o bem-estar da criança. Através dos jogos de movimento, a criança exercita a força muscular, o equilíbrio, a resistência, a flexibilidade e a coordenação. Portanto, a sua condição física sai beneficiada. Do ponto de vista do rendimento académico, está provado que o tempo de recreio favorece a função cognitiva, com aumento do tempo de atenção e participação na aula e uma melhoria geral do comportamento. Do ponto de vista social e emocional, o recreio é fundamental para estabelecer relações com os colegas, construir e desenvolver amizades, aprender a resolver conflitos, a gerir as tensões interpessoais e a tornar-se resiliente.

Ao brincar com os outros, a criança partilha, coopera, comunica, adapta-se, escolhe, decide… Portanto, aprende a estar com o Outro e constrói-se como ser social. Por exemplo, consideremos o jogo das “apanhadas”: requer cooperação, exige que a criança adote novos papeis e funções e que, em muitos momentos, ceda em função das escolhas do grupo. Portanto, é-lhe exigido que considere diferentes perspetivas e possibilidades. A ideia de que as competências sociais aprendidas no “tempo livre” preparam a criança para a vida adulta remontam ao início do século passado e têm vindo a ser, cada vez mais, sustentadas cientificamente.

Por todos este motivos, concordamos com a AAP no sentido de que o tempo de recreio não deve ser substituído por tempo extra de trabalho académicos e a sua supressão como castigo deve ser evitada.
Filipe Glória Silva
Cláudia Rocha Silva
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