A Síndrome de Asperger vai mesmo “desaparecer” no DSM 5?

Sim, de facto, a designação “Síndrome de Asperger” (SA) não aparece nas propostas de classificação da DSM-5, o que não significa que vá deixar de ser reconhecida como uma entidade clínica. A Síndroma de Asperger veio para ficar.
Na verdade, a DSM-IV também não era realmente útil. Vários investigadores (Mayes et al., 2001, entre outros) afirmam que “diagnosticar Síndrome de Asperger com a DSM IV é pouco provável ou até mesmo impossível”.
A proposta atual de “Perturbação do Espectro do Autismo” refere défices significativos na comunicação e interação social em vários contextos  – esta parte não é novidade.
O segundo conjunto de critérios diz respeito a padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades: entre outros, o discurso repetitivo e estereotipado, movimentos repetitivos, resistência à mudança; interesses muito restritos e atípicos em intensidade ou foco; hiper ou hipo-reatividade a estímulos sensoriais. Aqui, é de salientar a inclusão deste último critério, que tanto afeta a qualidade de vida de muitas pessoas com SA e que era ignorada até aqui.
Portanto, alguns “Aspergers”, de acordo com o novo DSM-V, serão diagnosticados com Autismo (num nível de severidade que pode variar). Outros, porém, já não apresentarão critérios para tal…
Talvez por esta razão surja uma nova categoria – “Social-Communication Disorder”, que não existia no DSM-IV-TR. A tradução “Perturbação da Comunicação Social” não será muito feliz para a nossa língua… Será mais correto, talvez, chamar-lhe Perturbação da Comunicação e Interação Social ou Perturbação da Comunicação e da Socialização. O que se passa é que os indivíduos cuja severidade cai fora da “malha” do Autismo mas, ainda assim, apresentam limitações na comunicação e interação social, poderão ser classificados nesta categoria. Poderão ter um “resquício autístico” ou um “Autismo subclínico”? Não sabemos, mas continuarão a precisar certamente de intervenção específica. Repare-se que estas pessoas não apresentam a dimensão autística dos padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos e repetitivos!
Esta nova categoria pretende caracterizar as pessoas que têm uma dificuldade nos aspetos pragmáticos da comunicação (simplificadamente, o uso da linguagem apropriado ao contexto) na compreensão e formulação do discurso, manifestando limitações em compreender as subtilezas da linguagem verbal e não verbal. Por exemplo, poderão não perceber segundos sentidos, piadas, ironias, tons sarcásticos, expressões faciais, etc.
Estas crianças, jovens e adultos apresentam dificuldades no uso social da comunicação verbal e não verbal em contextos naturais, que lhes afeta o desenvolvimento da reciprocidade social e as relações sociais, que não podem ser explicadas por défice nas competências linguísticas “estruturais” ou competência cognitiva geral.
É ainda importante considerar que estes sintomas podem apresentar diferentes combinações e graus de severidade, que podem mudar ao longo da vida.
Para concluir: é verdade que a classificação DSM-IV, de alguma forma, “validava” a existência da SA como entidade clínica. Ficando assim, “invisível”, poderá beliscar a identidade até aqui construída, mas o DSM 5 só vigorará a partir de 2013 e, portanto, ainda está aberta a possibilidade de clínicos e investigadores fazerem as suas sugestões e comentários no site www.dsm5.org.
Cláudia Susana Silva
Filipe Glória Silva
REFERÊNCIAS:
1. www.dsm5.org acedido em 26 de maio de 2012.
2. Mayes SD, Calhoun SL, Crites DL.(2001).  Does DSM-IV Asperger’s disorder exist? J Abnorm Child Psychol. Jun;29(3):263-71.
 
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